Avant Gardes '20 '60

Este é o nome da exposição temporária que se encontra no Museu Van Gogh. Passamos por lá o fim de semana passado. A exposição é uma pequena amostra do espolio do Stedelijk Museum talvez uma aperitivo para a sua abertura. Eu gostei muito! A chamada arte moderna e contemporânea tem sempre o mesmo efeito em mim, a maior parte das obras funciona como uma chamada de atenção para eu reparar nas coisas simples do dia-a-dia. Uma chamada de atenção para a beleza que existe na própria vida e no acto de viver.
Há uns anos atrás não entrava em exposições de arte contemporânea, porque achava que não a percebia. Há cerca de 2 anos atrás decidi ir tirar com curso de história de arte contemporânea e de repente passei a apreciar e a gostar muito.
Ao passar agora por um quadro pintado de branco ou um pintado de preto, páro e olho atentamente. Anteriormente passava por ele e pensava "mas que parvoíce porquê pintar um quadro todo de preto/branco?". Ao parar, reparo que não é um simples quadro preto/branco, por vezes tem uma textura diferente, por vezes formas na sua superfície que só se detectam com a aproximação, por vezes foram usadas tintas com um acabamento diferente, mais mate ou mais brilhante, que mudam conforme a luz incide. O quadro tem muito mais em si do que apenas a cor preta.
Eu gosto especialmente destes exemplos, porque se pode transportar directamente para a vida. Quantas vezes avaliamos uma pessoa, uma situação ao primeiro relance e quando paramos para analisarmos com mais atenção, descobrimos que a pessoa ou situação não são exactamente o que pensámos ao principio?
Desta vez a obra que me chamou mais atenção, foi uma peça em que o autor pegou o topo da mesa após um almoço, com os restos de comida, restos de beatas, guardanapos amachucados, etc. e o colocou na parede.
Ao descrever assim, pode não fazer sentido nenhum. Mas esta obra (para mim) eleva um almoço entre amigos ao estatuto de obra de arte. É uma chamada de atenção para estes momentos. Momentos que devem ser apreciados e valorizados. De algum modo esta obra, "fala" comigo mais directamente do que um quadro pintado à uns séculos atrás, representando um jantar entre amigos. Talvez seja mais real, talvez o facto de não haver ninguém representado, permita que aquela mesa pertença a qualquer pessoa!